O metrô de São Paulo expande-se de forma lenta e equivocada, aponta o
presidente do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, Altino de Melo
Prazeres Junior. Ao “esticar linhas”, sem criar conexões, a ampliação do
metrô aumenta a superlotação e o risco de acidentes. “O Metrô vem de um
atraso de décadas que, somado a mais gente no sistema e à expansão
lenta, cria superlotação. O que aumenta mesmo são os problemas”,
critica.
Com o corte de
investimentos na
expansão do sistema no primeiro semestre, Altino calcula que o governo
do estado de São Paulo levará mais de 30 anos para atingir a meta de 200
quilômetros de vias. Entre 2008 e 2010, a gestão estadual utilizou 37% a
menos da verba disponível para a Companhia do Metropolitano de São
Paulo.
Nesse período, dos R$ 9,58 bilhões previstos, foram gastos R$ 5,95
bilhões, segundo o Sistema de Informações Gerenciais da Execução
Orçamentária (Sigeo). Para os seis primeiros meses deste ano, o
orçamento do estado previa investimentos de R$ 3 bilhões. O governo
empenhou R$ 1,2 bilhão, mas não chegou a concretizar nenhum pagamento.
Na ponta do lápis, se o governo estadual mantiver o ritmo de ampliação
atual das linhas – 2,35 quilômetros por ano, de acordo com relatório do
próprio Metrô – a previsão de Altino é otimista, porque seriam
necessários aproximadamente 55 anos. Atualmente, esse modal de
transporte na capital paulista está perto de completar 70 quilômetros de
vias.
Com os congestionamentos no trânsito da cidade cada vez maiores, o
sindicalista prevê o metrô cada dia mais inchado. “Não há alternativa:
ônibus e carro são piores”, critica. “O problema é que começa a cair a
qualidade”. Na sexta-feira 12 de agosto, o metrô atingiu a marca de 4,1
milhões de passageiros, recorde de usuários num único dia.
Além da falta de investimentos, o metroviário aponta falhas no
planejamento das linhas. Segundo ele, faltam conexões. “A Linha 4 –
Amarela, por exemplo, não é eficiente, porque só ampliou a entrada e
continuam existindo poucas saídas. Quem vem da zona leste continua sem
ter alternativa para ir à avenida Paulista, por exemplo. A única via de
integração passa pela Estação Sé”, detalha.
A Linha 5 – Lilás – teve aumento de quase 100% no fluxo de passageiros,
informa Altino. Dos 130 mil passageiros diários no início, o atendimento
passou para 250 mil. Além disso, a linha continua desconectada de
outras do próprio sistema. A única conexão é com a Linha 9 – Esmeralda
da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM).
Acidentes
A lotação cada vez maior, segundo Altino, aumenta a insegurança nos
trens. “Agressões sexuais são favorecidas pela superlotação. Também
cresceram os acidentes em escadas e o empurra-empurra.”
As falhas nos trens também tendem a aumentar, diz. “Em relação à
manutenção, o metrô funciona como carro: quanto mais lotado maior o
desgaste”, explica. A frequência de manutenção preventiva, analisa, não é
suficiente diante dos novos números.“Não chega a haver risco, mas com o
número de passageiros cada vez maior, seria necessário mais
manutenção”.
Novas máquinas colocadas em operação no sistema também preocupam. “Já
chegaram com problemas” diz. “O Caf (os novos trens são chamados pelo
nome da empresa que os fabrica) é mais alto que o normal e fica acima da
plataforma”, relata. Apesar de a empresa ter rebaixado os vagões no
limite, os trens ainda estão em desacordo com o nível das plataformas,
dificultando o acesso de cadeirantes, por exemplo. “Compraram os trens
com padrão errado”, denuncia.
O novo sistema de sinalização e gerenciamento das composições, chamado
de CBTC (Controle do Trem Baseado em Comunicações, na sigla traduzida do
inglês) é outra preocupação. “Nos testes na linha 2 apresentou
problemas”. O novo sistema permite aproximação maior entre os trens e
redução dos intervalos. Mas se não estiver funcionando adequadamente
aumenta a probabilidade de acidentes. Para o sindicalista o número de
testes ainda é insuficiente para garantir a segurança do sistema. “No
metrô qualquer falha, por menor que seja, causa tumulto”, alerta.
México, Santigo e Buenos Aires
O metrô paulistano é tido como um dos mais modernos do mundo, mas o
serviço poderia ser muito melhor se não fosse a lentidão com o que o
governo do Estado investe no sistema, que começou a operar nos anos 1970
e possui 70 quilômetros de extensão divididos em sete linhas.
A média diária de passageiros é de 3,4 milhões, sendo que a cidade tem
quase 12 milhões de habitantes e é o centro de uma Região Metropolitana
com 20 milhões de pessoas.
A Cidade do México, centro de um conglomerado urbano com o mesmo número
de habitantes, começou seu sistema metroviário na mesma época que o de
São Paulo e já chegou a 202 quilômetros em suas 11 linhas.
A Grande Santiago, no entorno na capital do Chile, também inaugurou sua
primeira linha em meados dos anos 1970. Com 6,6 milhões de habitantes, a
cidade é servida por 105 quilômetros e cinco linhas de metrô, e deve
chegar a 120 quilômetros em 2014.
Buenos Aires, na Argentina, começou a construir suas linhas subterrâneas
no início do século 20. Hoje conta com 56 quilômetros em seis linhas,
para uma população de 3 milhões de pessoas.
Fonte: Rede brasil Atual