Houve um crime trágico em São Paulo, quando um jovem de 17 anos matou
outro de 19 anos, em um assalto à mão armada. Claro que para a família
da vítima não há punição, por maior que seja, suficiente para confortar a
perda. E claro que, para qualquer pessoa que passa por uma tragédia
destas, quanto mais pesada a punição mais se aproxima do sentimento de
justiça. Mas nada seria melhor do que uma política de segurança pública
que evitasse essa e novas tragédias.
O governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP), coloca a culpa no ECA (Estatuto
da Criança e do Adolescente), dizendo que a solução seria modificá-lo
para aumentar a pena para menores e transferi-los para presídios comuns
os que completam 18 anos. O problema é que nenhuma destas medidas parece
que teria evitado essa tragédia, nem parece ser solução para evitar
outras.
Poderíamos elencar dezenas de medidas legislativas que poderiam ser
tomadas com a intenção de coibir a violência, inclusive fazer um debate
honesto sobre a redução da maioridade penal, que tem argumentos
respeitáveis tanto a favor como contra. Mas não há lei que funcione se a
política de segurança pública não for eficaz para fazer as leis
funcionarem. E é aí os governos tucanos falham há 18 anos em São Paulo.
Óbvio que já há leis mais do que suficiente proibindo menores de terem
acesso à armas de fogo, mas o infrator cometeu o crime com um revólver.
Não é falha da lei. É falha de segurança pública.
Adolescentes infratores violentos, em geral não começam cometendo
latrocínio. Começam com pequenos furtos ou roubos. Para isso o ECA prevê
medidas sócio-educativas com penas mais do que suficiente para
reabilitar. O infrator do caso em questão, já havia cumprido medida
sócio-educativa antes. Se não foi reabilitado, antes de culpar a lei que
existiu e foi aplicada, é mais sensato procurar onde a governança está
falhando na ressocialização dos menores infratores, a ponto deles
voltarem à criminalidade de forma mais violenta.
O jovem infrator, nasceu em abril de 1995, meses depois da posse do
governo tucano de Mário Covas, tendo como vice Geraldo Alckmin. De lá
para cá, os tucanos estão há 18 anos no governo, em constantes crises na
segurança pública, área de responsabilidade do governador. Nesse
período, os sucessivos governos tucanos falharam várias vezes com os
nascidos sob seu governo e hoje tornaram-se adolescentes infratores.
Esse jovem infrator chegou quase ao 18 anos morando na favela Nelson
Cruz, cujo governo tucano não integrou ao bairro de Belem, onde ela
está. Essa ausência do Estado, deixando a comunidade abandonada à
própria sorte, uma zona de exclusão sem a proteção das leis, torna o
local propício para atividades criminosas, que oprime a grande maioria
da população trabalhadora e alicia os jovens. Essa segregação nefasta
mudou o destino de dois jovens, um infrator e outro morto, quando ambos,
quase vizinhos, poderiam ser companheiros de bairro, de geração, se
houvesse políticas públicas nos governos tucanos para mudar esse
destino.
Governadores não são responsáveis por todos os males, nem por desvios de
condutas de indivíduos, mas até pessoas de má índole, muitas fracassam
na carreira criminosa se o terreno não for fértil. E nesse ponto os
governos tucanos são responsáveis por suas políticas de segurança e
prevenção social deixarem o terreno tão fértil para a criminalidade em
São Paulo.
Não adianta o governador Alckmin recorrer à esperteza política de se
esconder atrás de mudanças nas leis, para ocultar fracassos de seu
governo. O gesto populista pode enganar alguns cidadãos na primeira
hora, num momento de comoção em que há clamor popular. Mas não reduzirá a
insegurança, nem evitará novas tragédias.
Um governador que fosse estadista, antes de priorizar apenas a punição
mais severa, priorizaria fazer o possível e o impossível para que os
crimes terríveis como este não acontecessem.
Por mais que haja argumentos respeitáveis pela redução da maioridade
penal para 16 anos, não queremos um Brasil de adolescentes e crianças
criminosas cada vez mais cedo, nem de jovens vítimas. A prioridade que
queremos é que crianças e adolescentes não vivam expostas à
vulnerabilidades, e não se tornem criminosos, para não haver vítimas,
nem uma nação de presidiários.
Só para citar um exemplo, se o infrator deste caso fosse julgado como
adulto e condenado entre 20 a 30 anos de prisão (a pena por latrocínio),
ainda assim poderia sair da cadeia até em 8 anos, aos 26 anos de
idade, com a progressão da pena por bom comportamento. Isso depois de
passar por presídios convivendo com a facção criminosa PCC, cuja
probabilidade de reincidência no crime é altíssima, conforme as
estatísticas apontam. Óbvio que isso não pode ser o desejável, pois com o
correr do tempo só agravará a situação, com crianças cometendo crimes
cada vez mais cedo, vivendo parte da juventude em masmorras, e voltado
mais violentos e desumanizados para cometer crimes piores ao saírem
ainda jovens da prisão. Mas é isso que o governador Geraldo Alckmin está
oferendo ao povo paulista.
Fonte Os Amigos do Lula
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