São Paulo – A Companhia
Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e a Companhia do Metropolitano
de São Paulo (Metrô) são alvo de ações por corrupção e má utilização de
recursos públicos.
Nas últimas semanas, os processos contra as empresas
estaduais paulistas registraram movimentação no Judiciário.
De um lado, a CPTM sofre denúncia, desde outubro do ano passado, por
improbidade administrativa, por utilizar um contrato vigente desde 1995
na compra de dez trens em 2005, no valor de R$ 223 milhões. Segundo o
promotor Marcelo Camargo Milani, a empresa devia ter realizado nova
licitação para a compra de trens, com valores atualizados. Já a
Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô) sofreu denúncia de
fraude na licitação dos lotes 2 a 8 da Linha 5 – Lilás, por suposto
conluio entre as construtoras concorrentes.
A ação contra a CPTM foi acatada pela Justiça somente no dia de 17 de
abril deste ano. O juiz da 7ª Vara da Fazenda Pública da capital,
Emílio Migliano Neto, mandou notificar o atual presidente do Metrô,
Mário Bandeira, e os executivos das empresas envolvidas na negociação
dos trens, para prestar esclarecimentos. Para o Ministério Público, o
correto seria a companhia realizar nova licitação, que permitisse a
outras empresas apresentarem ofertas de preços para aquisição dos
equipamentos. E não realizar um novo aditivo — o sexto — para efetivar a
compra. Se a denúncia for considerada procedente, as empresas podem ser
obrigadas a devolver os R$ 223 milhões.As irregularidades foram primeiro apontadas pelo Tribunal de Contas do Estado, após a realização de uma auditoria nos contratos da companhia. Foram citados, além da companhia, o ex-diretor da CPTM e ex-presidente do Metrô, Sérgio Henrique Passos Avelleda, os ex-diretores da CPTM Mário Fioratti, Sérgio Luiz Gonçalves Pereira e Telmo Giolito Porto, o consórcio Manfer, formado pelas empresas SPA Engenharia, Indústria e Comércio S/A e Tejofran de Saneamento e Serviços Gerais Ltda., e o diretor da SPA Engenharia Ricardo Augusto Novaes.
Em nota, a CPTM afirma que não houve irregularidade na edição do
aditivo e na compra dos trens. Inclusive, informa que “a multa pela
suposta irregularidade do aditivo 6, imposta pelo Tribunal de Contas do
Estado, foi anulada pela Justiça, em primeira instância, e,
posteriormente, teve sua anulação confirmada pelo Tribunal de Justiça”. A
companhia conclui afirmando que essa citação dará oportunidade aos seus
diretores para esclarecer o caso, pois o Ministério Público “sequer
convocou os dirigentes para prestarem esclarecimentos, como é praxe
nesses procedimentos administrativos”.
Fraude no Metrô
De acordo com a denúncia acatada, as empresas concorrentes aos lotes
da Linha 5 – Lilás teriam acertado entre elas os lotes mais vantajosos
para cada uma. Conforme verificado no exame dos envelopes pelo
Ministério Público, os consórcios apresentaram uma proposta dentro do
orçamento apresentado pelo Metrô e as outras acima. Isso seria muito
arriscado do ponto de vista da concorrência, a não ser, como foi
denunciado, que já se soubesse quem iria vencer. Foi percebido, ainda,
que propostas vencedoras estavam, em média, 1% abaixo do valor definido
pelo Metrô.
Segundo a juíza Simone Gomes Rodrigues Casoretti, da 9ª Vara da
Fazenda Pública da capital, o fato de a proposta vencedora ser,
efetivamente, menor do que o orçamento-padrão do Metrô foi utilizado
para “demonstrar uma aparência de regularidade no certame”. A juíza
sustenta, inclusive, que o ex-presidente do Metrô, Sérgio Henrique
Passos Avelleda, embora tenha tomado posse após a conclusão da
licitação, efetivou a assinatura dos contratos mesmo tendo ciência das
denúncias e da investigação. Desse modo, não seria possível afastá-lo
das investigações.
Os prejuízos ao erário citados no processo seriam, ao menos, os
decorrentes do processo de licitação, no valor de aproximadamente R$ 327
milhões de reais. Mas é possível que se exija a devolução de um valor
muito maior, pois as obras não foram paralisadas e estão estimadas em R$
4 bilhões.
São dois os processos contra o Metrô. O primeiro é uma ação popular
movida em outubro de 2010 pelo então deputado estadual petista Vanderlei
Siraque. A outra, uma ação civil pública, foi iniciada pelos promotores
Marcelo Camargo Milani, Silvio Antônio Marques, Marcelo Duarte
Daneluzzi e Luiz Ambra Neto em novembro de 2011. A princípio foi pedida a
suspensão das obras em caráter liminar, mas a Justiça avaliou que
poderia haver grave prejuízo à população pelo atraso das obras. Os
processos se arrastaram por todo o ano passado. Em 2013 a Justiça mandou
anexar os dois processos e, em 18 de março, a juíza determinou a
retomada do caso.
Os processos tiveram início após reportagem do jornal Folha de S. Paulo
anunciando que os vencedores da licitação dos lotes 2 a 8 da Linha 5 –
Lilás, que ligará o Largo Treze de Maio à Chácara Klabin, já eram
conhecidos seis meses antes da abertura dos envelopes de propostas.
Uma sindicância interna do Metrô sobre o caso, à época, não apontou
qualquer irregularidade. O Conselho Administrativo de Defesa Econômica
(Cade), responsável por analisar questões relativas a concorrências
pública e práticas de mercado, realizou processo administrativo e
expediu laudo em que concluiu não haver qualquer irregularidade no
processo licitatório da Linha 5 – Lilás. Esse laudo tem sido usado como
principal instrumento de defesa dos investigados, que afirmam não haver ilegalidade a ser apurada, entre outras afirmações.
Porém, de acordo com a decisão da juíza, o laudo do Cade é coeso e
bem elaborado, mas a questão não diz respeito à ordem econômica e sim à
“possível prática de ato de improbidade administrativa consistente em
fraudar licitação”. Desse modo, a juíza entende que “a inexistência de
ato de improbidade administrativa, ausência de prejuízo aos cofres
públicos, ilegitimidade passiva, não comprovação do alegado conluio ou
cartel entre as vencedoras são temas que dizem respeito ao mérito”, e
serão apreciados quando houver decisão da sentença.
São denunciados, além de Sergio Avelleda, as empresas Galvão
Engenharia, Serveng - Civilsan Empresas Associadas de Engenharia,
Construtora Andrade Gutierrez, Construções e Comércio Camargo Corrêa,
Mendes Junior Trading e Engenharia, Heleno & Fonseca Construtécnica,
Triunfo Iesa Infra Estrutura, Carioca Christiani Nielsen Engenharia,
Cetenco Engenharia, Construtora Norberto Odebrecht Brasil, Construtora
Queiroz Galvão, Construtora OAS, CR Almeida S/A Engenharia de Obras,
Consbem Construções e Comércio, o próprio Metrô e a secretaria estadual
da Fazenda.
Em nota, o Metrô informou que "o Colegiado do Tribunal de Justiça de
São Paulo determinou, por unanimidade, a continuidade da execução dos
contratos e das obras da Linha 5-Lilás. Se ficar comprovado o conluio
entre as empresas, o estado espera ser ressarcido. A expansão da Linha 5
até a Chácara Klabin vai beneficiar mais de 800 mil passageiros por
dia. O Metrô esclarece que os contratos foram assinados em gestão
anterior à do ex-presidente Sergio Avelleda."
Fonte Rede Brasil Atual
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