A servidora da Secretaria da Educação Marilena de Lourdes Silva seria a primeira de três pessoas a serem ouvidas nesta quarta-feira (9) na CPI da Merenda, na Assembleia Legislativa de São Paulo. Mas os deputados da base do governador Geraldo Alckmin (PSDB) interromperam o depoimento e esvaziaram a reunião. Os governistas são maioria no colegiado que investiga pagamentos de propinas e servidores e parlamentares em contratos de fornecimento de merenda escolar.
ALOISIO MAURICIO /FOTOARENA/FOLHAPRESS
"A base do governo percebeu que a
investigação está demonstrando que pode apontar os mandantes do
esquema. Já sabemos que houve pressão, que servidores colaboraram, que
os ex-assessores do presidente (da Assembleia) Fernando Capez estão
envolvidos. A CPI pode mostrar quem mandou e pra onde foi o dinheiro",
afirmou o deputado Alencar Santana (PT), único membro da oposição na
CPI. No momento em que os deputados deixaram a reunião, ele questionava
Marilena sobre o processo de 2015, vencido pela Coagrosol, parceira da
Cooperativa Orgânica da Agricultura Familiar (Coaf).Para ele a preocupação deriva da revelação de que Jeter Rodrigues e José Merivaldo, ex-assessores de Capez, movimentaram aproximadamente R$ 620 mil, segundo investigação do Ministério Público. O valor é compatível com a delação do lobista da Coaf, Marcel Ferreira Júlio, que disse ter repassado os valores aos assessores e para ajudar a campanha de Capez (PSDB). Além disso, no depoimento de hoje, Marilena disse ter sido procurada por Jeter, em 2014, querendo saber do contrato. E que houve várias irregularidades no processo de 2013, que culminou com a vitória da Coaf, mas depois foi cancelado. O processo foi reaberto em 2014, com nova vitória da Coaf, apesar do uso de documentos falsos e da concessão de prazos irregulares.
Também hoje seriam votados requerimentos que pedem a reconvocação de Marcel e acareações entre ele, Jeter, Merivaldo e Luís Carlos Gutierrez, o Licá, outro assessor de Capez. Com a saída dos deputados da base do governador, a votação também foi suspensa. Com exceção de Santana, os demais parlamentares já se manifestaram contrários a tal procedimento, mesmo com a revelação das movimentações bancárias de Jeter e Merivaldo.
O deputado Barros Munhoz (PSDB) justificou a saída da sessão dizendo que Santana está procurando "pelo em ovo" para "atingir objetivos políticos". E que não permitiria isso na CPI. "Já está muito clara a participação de Jeter e Merivaldo, os erros de alguns servidores. Mas o PT está tentando criar fatos para incriminar outras pessoas", afirmou. No entanto, ao ser questionado sobre se recebeu orientação por meio de uma ligação recebida momentos antes, Munhoz ficou visivelmente nervoso e negou que tenha ocorrido influência externa. "Vocês são absurdamente parciais", disse aos jornalistas.
Ao sair da reunião, Munhoz foi seguido pelos deputados Delegado Olim (PP), Carlão Pignatari (PSDB) e Gilmaci Santos (PR). Ontem, os deputados já haviam deixado a reunião antes do depoimento da servidora Vanessa Alves Vieira. Nesta manhã, a reunião atrasou 40 minutos por falta de quórum, sendo iniciada com apenas cinco dos nove deputados.
Além de Marilena, que foi diretora do Departamento de Suprimento Escolar da Secretaria da Educação, seriam ouvidas Silvia Cristina Lancellotti Pinto, ex-funcionária do Centro de Serviços de Nutrição do Departamento de Alimentação e Assistência ao Aluno da Secretaria Estadual da Educação, e Célia Falótico, ex-coordenadora de Infraestrutura e Serviços Escolares do Departamento de Alimentação e Assistência ao Aluno da Secretaria Estadual da Educação.
O presidente da comissão, deputado Marcos Zerbini (PSDB), concordou com a avaliação de Munhoz, mas disse que vai buscar conciliar os deputados para garantir a continuidade dos trabalhos. "Eu tenho todo interesse em apurar. As depoentes que não foram ouvidas serão reconvocadas. O que não pode é o PT tentar transformar erros em crimes ou envolver o presidente da casa sem provas", afirmou. A próxima reunião será na quarta-feira (16).
Fonte: RBA
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