Fernando Brito, Tijolaço
"Sete meses depois de que todas as indicações técnicas recomendavam o
racionamento de água em São Paulo, um órgão do Poder Público toma as
providências necessárias frente à crise.
O Ministério Público Federal deu dez dias para que Geraldo Alckmin
coloque em prática, na forma de rodízio, o racionamento d’água na região
servida pelo Cantareira, o que equivale a 40% dos consumidores da
Grande São Paulo.
Segundo o Estadão,
o MPF baseou sua decisão em um estudo da Unicamp que estima em menos de
100 dias o estoque de água disponível, mesmo com o bombeamento do
chamado “volume morto”.
No ritmo do mês de julho, a reserva dura cerca de 75 dias.
O estado do maior dos reservatórios, o Jacareí-Jaguari (ou melhor,
apenas Jacareí, porque já secou a ligação com o Jaguari) é este que você
vê na foto.
Uma coleção de poças, freneticamente ligadas por dragas e escavadeiras.
Se tivesse sido iniciado em janeiro ou fevereiro um racionamento suave, os paulistanos teriam apenas um incômodo.
E isso era tão previsível que há sete meses este blog, que não é um especialista, vem dizendo que era necessário.
Agora, a maior metrópole de nosso país está à beira de uma tragédia.
Mas, para Alckmin, tragédia seria apenas se a água acabasse antes da eleição.
Depois, danem-se os cidadãos.
Mas, para os habitantes de São Paulo, ficar completamente sem água,
antes ou depois de darem seus votos, é igualmente desastroso.
A mídia falou, falou, falou do risco de “apagão” por falta de água nos reservatórios do Sudeste.
Eles estão, hoje, passados cinco meses, exatamente no mesmo nível que tinham no final de fevereiro, auge da falta de chuvas.
O Cantareira, ao contrário, está esgotado e sendo drenado, praticamente, da lama.
A decisão do Ministério Público corresponde a uma necessidade, não a um prazer sádico de restringir a água dos paulistanos.
Ao contrário, é sua proteção contra o impensável.
Alckmin, aliviado, vai assumir, outra vez, a postura de Tartufo que cai tão bem.
“A culpa do racionamento não é minha”.
Graças a esta “culpa”, São Paulo tem uma chance.
Porque o lodo do Cantareira pode ter todo tipo de contaminação.
Mas certamente não é tão lesivo à população do que a grossa demagogia que se fez, durante meses, com a população."
Nenhum comentário:
Postar um comentário