Detentora da maior parcela da força de trabalho brasileira, a região
metropolitana de São Paulo caminhou na contramão das outras cinco
principais capitais do país e deu mostras de perda de fôlego em seu
nível de emprego. Enquanto nas demais regiões pesquisadas pelo IBGE a
taxa de desemprego diminuiu entre setembro de 2011 e igual mês de 2012,
em São Paulo ela aumentou consideravelmente nesse período, de 6,1% para
6,5%, se descolando do novo recorde de baixa batido pela desocupação.As
informações são do jornal Valor Econômico
Com maior peso na
Pesquisa Mensal de Emprego (PME), a trajetória da capital paulista
evitou recuo na média das seis regiões entre agosto e setembro, cuja
desocupação passou de 5,3% para 5,4%. Também na comparação mensal, São
Paulo foi a única região onde houve aumento relevante no contingente de
desempregados, que eram 5,8% da População Economicamente Ativa (PEA) em
agosto.
Especialistas têm dificuldade em avaliar se esse
movimento é pontual ou pode configurar uma tendência, mas apontam que o
maior peso da indústria no mercado de trabalho paulistano é o principal
fator por trás desse descompasso.
Enquanto a produção industrial
encolheu 3,5% de janeiro a setembro em relação a igual período do ano
passado, no Estado de São Paulo, as indústrias produziram 5,2% menos.
Com expectativa de que a atividade se recuperasse na virada do ano, o
setor não fez grandes demissões, mas criou menos empregos: em setembro, o
estoque de ocupados nas fábricas era de 3,7 milhões nas seis regiões
metropolitanas, 0,3% menor do que em setembro de 2011. Na mesma ordem, a
população ocupada na indústria em São Paulo teve redução bem mais
intensa, de 3,1%.
Caio Machado, da LCA Consultores, nota que a
indústria representou 19,3% da população ocupada em São Paulo no mês de
setembro, mais de três pontos percentuais acima da média total das
regiões, de 16%. Assim, quando o setor atravessa um momento mais
delicado, a tendência é que a taxa de desemprego nessa capital responda
mais do que nas outras. "Por ser bastante diversificado, o parque
industrial de São Paulo acaba refletindo o movimento dos setores que
mais sofrem", diz Machado.
Na passagem de agosto para setembro, o
contingente de empregados na indústria encolheu 1,3% no total das seis
regiões metropolitanas, queda que, em São Paulo, chegou a 2,6%. Machado
associa esse movimento ao forte aumento de 12,8% na população
desempregada nessa região, contra apenas 3% na média de todas as
metrópoles analisadas pelo IBGE. "Como, nas demais regiões, os setores
de maior peso no emprego são mais dinâmicos, como o comércio e os
serviços, a taxa de desemprego nelas segue em queda", explica Machado.
Para
Claudio Dedecca, professor do Instituto de Economia da Unicamp, o dado
de São Paulo acende uma luz amarela para as outras regiões que, por
enquanto, estão em "compasso de espera". Apesar de vir perdendo
expressão como gerador de empregos na última década, Dedecca aponta que o
mercado de trabalho paulistano é o mais dependente de estruturas
produtivas modernas e, por isso, reage mais rapidamente quando a
economia se desacelera. "Se a economia não voltar a crescer, podemos ter
um cenário de aumento do desemprego no início do próximo ano."
Além
da questão industrial, Fabio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores,
observa que mais pessoas saíram à busca de uma ocupação em São Paulo, o
que contribui para aumentar a taxa de desemprego. Acompanhando
movimento generalizado em setembro, a PEA cresceu 1,4% na capital
paulista sobre igual mês de 2011. "Há oferta de trabalho e consumidores
endividados, o que pode estar levando mais pessoas a procurar emprego".
Pesquisa da Fecomercio-SP aponta que, em outubro, 48,9% das famílias
paulistanas estavam endividadas, nível inferior aos 51,5% de setembro,
mas ainda considerado elevado por Silveira.
Segundo Machado, da
LCA, a construção civil é outro setor que ainda apresenta desempenho
razoável como gerador de empregos nas demais capitais pesquisadas pelo
IBGE, mas que passa por alguma acomodação em São Paulo, o que já se
reflete na ocupação. Em setembro, o estoque de ocupados nesse ramo de
atividade caiu 3,4% sobre o mesmo mês do ano passado nessa região,
período em que cresceu 1,2% na média das seis regiões.
"Os dados
de vendas e lançamentos de imóveis em São Paulo estão mais fracos em
comparação ao restante do país", avalia. No acumulado de janeiro a
setembro, as vendas de imóveis novos recuaram 3,4% na capital paulista,
ao passo que os lançamentos encolheram 29% no mesmo período. Machado
também aponta que as contratações nesse setor são muito influenciadas
pelas grandes empresas, que têm mostrado dificuldades financeiras em
seus últimos balanços.
Fonte:
Portal do Economista