Em 2008, o traficante colombiano alertou que, para combater o tráfico, São Paulo deveria fechar o Denarc. O tucano não ouviu e, agora, a porta está arrombada
ABr
Quando policiais de um órgão repressivo de ponta, como o Departamento Estadual de Repressão ao Narcotráfico (Denarc) de São Paulo, mudam de lado e se associam ao crime organizado para vender informações, extorquir bandidos associados ao PCC e facilitar tráfico de drogas proibidas, fica claro, ao comum do povo, que o crime organizado é sempre mais forte do que o Estado.
Isso acaba de acontecer em São Paulo, com 13 policiais sob suspeita: dois delegados do Denarc e cinco investigadores estão presos.
Surpresa? Claro que não. Basta puxar pela memória. Um poderoso operador do mega-cartel colombiano do Vale Norte, Juan Carlos Abadia, disse em 2008, depois de preso por pressão da DEA, o departamento anti-narcotráfico dos Estados Unidos, que se o governo de Geraldo Alckmin (PSDB) desejasse efetivamente reprimir o narcotráfico deveria fechar o Denarc. Durante anos, Abadia operou a partir de São Paulo sem nunca ter sido molestado pelas polícias de São Paulo. E ele acabou sendo entregue para os EUA sem revelar nomes dos policiais que corrompia.
Numa ação conjunta do Ministério Público e da Corregedoria de São Paulo ocorrida na segunda-feira 15 chegou-se à mesma conclusão que Abadia. E com a porta arrombada, o governo Alckmin promete restruturações, sem dizer o que será feito.
Pior, repetiu-se um fato que os brasileiros estão fartos de saber, ou seja, o traficante Andinho (preso em 2002) continua, do interior de presídio dito de segurança máxima ou de farsa máxima, a comandar sua organização criminosa e a corromper policiais. Os de segunda, segundo o MP, recebiam cerca de 600 mil reais por ano do PCC e do bando de Andinho. Antes de ser dinamitado pela Máfia siciliana, o magistrado Giovanni Falcone destacava que a delinquência organizada, ao contrário da delinquência comum, precisa grudar parasitariamente no Estado. Isso para desfrutar de proteção, de informações e, assim, poder expandir a sua rede criminosa.
No caso de segunda-feira, o crime organizado paulista contava com o manto protetor de policiais.
E atenção, atenção: Enquanto não se desfalcar o caixa, o patrimônio de um PCC, e não se isolar e cortar o cordão umbilical do preso com a sua organização, nada se vai conseguir.
Por outro lado, as polícias precisam contar com um sistema eficiente para detectar enriquecimentos sem causa dos seus agentes. Sistema capaz de buscar os sinais de patologia a indicar corrupção. Afinal, como diz a sabedoria portuguesa, “quem cabritos possui e cabras não tem, de algum lugar os cabritos provêm”.
O episódio repressivo de segunda-feira, infelizmente, representa uma gota de água no oceano. O tráfico de drogas aumenta no mundo. Em cada 20 pessoas, uma faz uso de droga proibida que é traficada por redes criminais transnacionais.
As polícias no mundo só conseguem apreender 5% do que é ofertado no mercado. E o tráfico movimenta cerca de 300 bilhões de dólares por ano e, para tanto, usa o sistema bancário.
Wálter Maierovitch
Carta Capital via fatosdaregiao
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