Novas escutas mostram que alto funcionário sabia de fraude na saúde
O acusado é coordenador estadual de Serviços de Saúde. O secretário de Esportes de São Paulo, Jorge Roberto Pagura, envolvido, pediu demissão.
O repórter Maurício Ferraz teve acesso a novas escutas feitas com autorização da Justiça. Segundo a polícia, essas gravações mostram que um alto funcionário da Secretaria de Saúde sabia das fraudes. O acusado é coordenador estadual de Serviços de Saúde . As denúncias também mostraram o envolvimento de Jorge Roberto Pagura, que era secretário de Esportes de São Paulo, no esquema. Neste domingo (19), ele pediu demissão. Maurício Ferraz mostra, com exclusividade, novas denúncias sobre os médicos que recebiam sem trabalhar.
O médico Jorge Roberto Pagura na época não estava sendo investigado, mas no dia 10 de dezembro passado foi flagrado em uma ligação para Ricardo Salim, cujo telefone estava grampeado com autorização judicial.
Salim era o diretor geral do Hospital Regional de Sorocaba, um dos maiores do interior de São Paulo. Segundo o Ministério Público, a conversa é para acertar a frequência dos plantões não trabalhados.
Salim: O seu ponto está sob controle. Mas vamos tomar cuidado semana que vem, vamos pôr em algum lugar mais seguro.
Pagura: Está certo.
Salim: Se você não tiver, você me avisa. Eu vou procurar alguma coisa.
Pagura: Nem que tenha de ir todo dia mesmo. Não tem problema.
Jorge Pagura quer garantir que tudo está acertado.
Salim: Esse, até hoje, acho que não tem problema.
Pagura: Não, não. Até está seguro. Aqui não tem problema.
Salim: Não vamos deixar pintar na boca de alguma coisa.
Pagura: Exatamente. De repente, vem um cara e "cutuca" o que não deve.
Na última quinta-feira (16), a polícia cumpriu mandados de busca e apreensão em oito hospitais públicos: sete na capital paulista e mais o regional de Sorocaba. Ao todo, 12 pessoas foram presas.
“Essas pessoas não compareciam ao local de trabalho, causando um enorme prejuízo para a sociedade, principalmente para a população que busca auxílio na saúde”, aponta o delegado Wilson Negrão.
Entre os presos está a ex-chefe de recursos humanos do Hospital de Sorocaba, Márcia Regina Ramos. Em um vídeo obtido com exclusividade pelo Fantástico, Márcia fala sobre o neurocirurgião Jorge Pagura.
Investigador: Ele vinha trabalhar?
Márcia Regina: Não.
Investigador: Nunca veio trabalhar?
Márcia Regina: Não.
Escondidos em um armário, foram encontrados os controles de frequência de Jorge Pagura. Nos documentos consta que, entre 2009 e 2010, ele deveria dar expediente no Hospital de Sorocaba de segunda à sexta, das 8h às 12h.
Investigador: A frequência, como é que fazia?
Márcia Regina: Ele mandava a frequência para mim e eu encaminhava lá para a DRS (Delegacia Regional de Saúde).
Investigador: Entendi. Já vinha a frequência pronta dele?
Investigador: Sim.
Jorge Pagura não quis gravar entrevista. Em nota, ele confirmou que nunca fez plantões no Hospital de Sorocaba. Disse que não recebeu por eles e que o trabalho que realizava no local era o de desenvolvimento de projetos com verba do SUS.
Segundo a polícia, mais de 70 profissionais da saúde estariam envolvidos no esquema de desvio de dinheiro dos plantões médicos. Novas gravações obtidas pelo Bom Dia Brasil revelam que um funcionário do alto escalão da Secretaria Estadual de Saúde sabia da fraude.
Ricardo Tardelli é o chefe da coordenadoria de Serviços da Saúde, responsável por todos os hospitais estaduais de São Paulo. Ele foi flagrado falando com o então diretor do Hospital de Sorocaba, Ricardo Salim, sobre o suposto esquema de fraudes nos plantões médicos.
Salim: É a única coisa flexível que você tem e que todos têm. O resto não tem o que fazer. Então a gente tem que usar isso até para tocar o serviço.
Tardelli: Não é uma exclusividade do conjunto do Hospital de Sorocaba. Isso tem em todo lugar. Se fizer um pente fino vai encontrar problema.
Eles também falam da contratação irregular de uma médica, que morreu durante as investigações.
Salim: Ela trouxe o cargo dela de Cachoeirinha.
Tardelli: Sei.
Salim: E os caras (da Corregedoria) falam que é ilegal e deve ser ilegal mesmo. Só que a Terezinha já morreu. Isso aí já é assunto ultrapassado. Para que vai "cutucar" isso?
Segundo a polícia, Ricardo Tardelli, que é o coordenador estadual, tinha conhecimento de tudo o que acontecia. O secretário estadual de Saúde-SP, Giovanni Guido Cerri, fala sobre o assunto: “Nós não recebemos informações da promotoria em relação à participação dele nesse esquema. Nós temos que aguardar informações sobre isso. Nós vamos apurar e se houver qualquer tipo de envolvimento nós vamos tomar as medidas necessárias”, afirmou o secretário estadual de Saúde de São Paulo.
“É necessária uma revisão geral de conceitos, desse tipo de procedimento, das pessoas que são colocadas à frente desses interesses da saúde pública”, reforçou a promotora pública Maria Aparecida Castanho.
É o que também esperam os pacientes que precisam do atendimento do serviço público de saúde. O paciente Tulio caiu de moto. Fez uma cirurgia há 15 dias e ainda sente dores na perna. Para fazer os exames, ele precisa ir de um prédio para o outro. Sem macas, sem cadeira de rodas e muleta, ele circula pelo hospital com uma perna só. A mãe do rapaz diz que procurou uma cadeira de rodas, mas não encontrou, pois estão todas ocupadas.
“Eu esperei seis meses para uma ressonância. Se tiver doente mesmo, morre”, diz a aposentada Maria Lourdes Pereira.
Os depoimentos devem começar às oito horas da manhã desta segunda-feira (20). Segundo os promotores, os presos foram todos ouvidos, mas alguns serão interrogados novamente pois há algumas informações desencontradas. Segundo os promotores dos 12 presos, quatro já estão em liberdade. Três foram liberados porque colaboraram bastante com as investigações e o diretor do hospital Heitor Consani, conseguiu um habeas corpus do Tribunal de Justiça e no sábado (18), deixou o quartel da Polícia Militar, onde estava preso desde quinta-feira (16).
O neurocirurgião, Jorge Pagura, que até o domingo (19) era secretário estadual de Esportes, pediu demissão e deve ser intimado a depor na Delegacia de Sorocaba. O governador Geraldo Alckmin deve escolher ainda nesta segunda-feira (20), ou nesta terça, o novo interventor do Hospital de Sorocaba.
A Secretaria de Saúde determinou uma auditoria em todos os hospitais do estado de São Paulo para verificar a extensão das fraudes. Além disso, determinou a implantação de pontos eletrônicos em todos hospitais do estado, com um sistema de controle exclusivo para quem faz plantão.
Ricardo Tardelli informou através do serviço de imprensa da Secretaria de Saúde, que não sabia de nenhum esquema organizado de fraudes nos plantões em hospitais estaduais. O advogado Pedro Luiz Cunha, que defende Ricardo Salim, disse que todos os procedimentos adotados por seu cliente foram legítimos
Fonte:Bom Dia Brasil
Enquanto isso uma reportagem feita em Fevereiro mostrava como anda péssimo o atendimento nesse hospital Estadual
Tem Notícias flagra caos na saúde pública em Sorocaba
Pacientes pedem socorro pelas janelas do Conjunto Hospitalar de Sorocaba, que é referência no interior de São Paulo. O hospital enfrenta problemas como falta de leitos, problemas de higiene e de conservação. Por dia, passam por pelo conjunto mais de três mil pessoas, vindas de 48 cidades.
Um dos setores mais sobrecarregados é o da ortopedia. A reportagem flagrou pacientes aguardando tratamento em quartos superlotados. No banheiro masculino, os vasos sanitários estão quebrados, faltam azulejos e as paredes estão cheias de infiltrações. A madeira das portas apodreceu. Faltam chuveiros e cuidados com a higiene.
A reportagem encontrou um homem de 79 anos que foi atropelado no fim de 2010. Ele fraturou um dos braços e a perna. Somente duas semanas depois, os médicos descobriram que ele estava com cinco costelas quebradas. “Primeiro falaram que ele estava com pneumonia. Daí, disseram que ele estava com um coágulo no pulmão. Depois de 15 dias, descobriu que não era coágulo, não era pneumonia. Era a costela quebrada que estava apertando o pulmão”, disse uma pessoa da família.
Ainda de acordo com a família, o idoso passou mais de um mês com um mesmo curativo no braço. A filha dele, que prefere não se identificar, conta que um dos médicos confirmou que a medicação estava errada. “Não tem nenhum médico responsável por ninguém aqui. Eu estava me sentindo desprotegida aqui dentro do hospital. Você vê um idoso, seu pai ali do seu lado morrendo e você não pode fazer nada”, afirmou.
A direção do hospital reconhece os problemas e diz que tem um dos maiores orçamentos do estado, mais de R$ 130 milhões por ano, mas que não tem como fazer todas as obras necessárias.
“Não gosto do que eu vejo, mas, infelizmente, eu não posso parar o hospital, fechar o hospital para tomar uma medida desta natureza. Eu tenho que fazer isso por partes. Eu não recebo colaboração de nenhum outro hospital, nem da cidade, nem da região. Praticamente, eu tenho que dar conta de tudo”, declarou Antonio Carlos Nasi, diretor do conjunto hospitalar.
O diretor de fiscalização do Conselho Regional de Medicina, João Márcio Garcia, nega qualquer irregularidade na equipe médica do conjunto hospitalar.
Fonte:TEM TV
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