"Por que será que o governo se manifesta com tanta veemência, se eu não os acusei, ainda (grifo meu), de fazer nada errado?".
Intimado pelo governador Geraldo Alckmin a dar nomes aos bois para que possa dar início às investigações sobre a denúncia de que 30% dos parlamentares paulistas cobram propina dos prefeitos para a indicação de emendas, o deputado estadual Roque Barbieri (PTB) fez a pergunta acima em seu depoimento escrito encaminhado, na tarde desta quinta-feira, à Comissão de Ética da Assembléia Legislativa.
Na ameaça pouco velada, Barbiere lembrou também que alertou o secretário de Planejamento, Emanuel Fernandes, e a subsecretária de Assuntos Parlamentares da Casa Civil, Rosemary Correa, sobre o comércio das emendas envolvendo deputados, prefeituras e empreiteiras, que consomem R$ 188 milhões do orçamento estadual por ano (cada excelência tem direito a distribuir R$ 2 milhões).
Na mesma sessão em que foi lida a carta de Roque Barbiere, a Comissão de Ética aprovou por unanimidade um convite para que o deputado licenciado Bruno Covas, atual secretário do Meio Ambiente do governo paulista e pré-candidato à Prefeitura, explique a denúncia que fez ao jornal "O Estado de S. Paulo".
Em agosto, antes que as acusações de Barbiere chegassem à grande imprensa, Bruno Covas afirmou que um prefeito lhe ofereceu 10% de "comissão" sobre uma emenda de R$ 50 mil do deputado que beneficiou sua cidade. Travou-se então, segundo Covas, o seguinte diálogo, ao ser surpreendido pela oferta do prefeito:
- A quem devo entregar os R$ 5 mil?
- Ah, entrega para a Santa Casa...
Em vez de denunciar o deputado corrupto, o deputado sugeriu um ato de benemerência com a grana da propina. Agora, a Comissão de Ética quer saber o nome do prefeito e o destino dado ao dinheiro da emenda.
Bruno Covas tentou desmentir a declaração, alegando que foi "mal intepretado", mas a entrevista está gravada.
O depoimento de Covas foi marcado para a próxima terça-feira. Mas, como aconteceu com Barbiere, já que foi convidado e não convocado, ele poderá mandar uma carta. O clima esquentou na Assembléia e o assunto já não pode ser jogado para debaixo do tapete, como costuma acontecer sempre que surge uma denúncia envolvendo o governo e o parlamento de São Paulo.
Bruno Covas é a primeira vítima do escândalo das emendas, mas certamente não será a última. Sua pré-candidatura à Prefeitura paulistana foi abalada no mesmo dia do lançamento em que a entrevista foi publicada, a ponto de seu nome já surgir como possível vice de Guilherme Afif nas negociações entre o PSDB e o PSD do Kassab para a montagem de uma chapa única dos dois partidos, refazendo a aliança dos tucanos com a nova dissidência do DEM (ex-PFL).
A ideia desta nova aliança surgiu ao longo da semana e pode contemplar todos os líderes anti-PT da cidade, reunindo novamente no mesmo barco Alckmin, Serra e Kassab em torno do nome do vice-governador Guilherme Afif.
Do outro lado, Fernando Haddad, indicado por Lula como candidato do PT, ainda não sabe quando deixará o Ministério da Educação para iniciar sua campanha. Os outros pré-candidatos, incluindo a ex-prefeita e senadora Marta Suplicy, insistem nas prévias.
As próximas semanas prometem fortes emoções na política paulista. De qualquer forma, no cenário atual, tudo indica que a disputa se resumirá mais uma vez a um candidato do PT e outro anti-PT, como tem acontecido nas últimas eleições. Aguardem.
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